23.10.12

O Significado do Concílio Vaticano II para Mim


Beth Rindler, SFP

Cresci em uma família católica na zona rural, em Ohio, onde todos eram católicos.  Era a única religião que eu conhecia naquela época.  Portanto, o que eu acredito vem do catolicismo romano.  Minha família ia à igreja todos os domingos, e nós, as criuanças, frequentávamos as aulas de catecismo todos os sábados de manhã, por duas horas, durante o ano todo.

Minhas básicas crenças religiosas não mudaram muito depois que entrei para a vida religiosa em 1949.  Mas com o evento do Concílio Vaticano II, minha percepção de Jesus e de Deus mudou radicalmente.  Antes do Vaticano II, Deus parecia ser mais como o Papai Noel do que com qualquer ser humano que eu conhecia.  Não poderia imaginá-lo como outro "Ser" senão como alguém que era gentil, afável e  bondoso.  Sabia que esse "Ser" era invisível para mim, assim como era o "verdadeiro" Papai Noel.  Porém, eu acreditava na existência de ambos. Jesus, naquela época, era para mim o Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

Os livros espirituais disponíveis para mim durante o Noviciado, tendo sido escritos antes do Vaticano II, me pareciam incompreensíveis, pelo menos, na sua maioria.  Não conseguia me relacionar com eles.  Então, quando o Cardeal Leo J. Suenens escreveu A Freira no Mundo Moderno, no tempo do Concílio Vaticano II, não só compreendi, como também gostei do que dizia.  Esse livro "fazia sentido" para mim.  Queria virar as páginas tão rápido quanto podia para ler o que ele iria dizer em seguida.

Também me sentia feliz por ser capaz de ler os textos Escrituras por minha conta, especialmente os Evangelhos.  Não sei quando nem como foi, mas lembro-me de ter conseguido obter uma Bíblia.  Era a Bíblia de Jerusalém que, segundo havia ouvido falar, era a melhor tradução.  Um outro livro que muito afetou a minha vida foi o Nosso Modo de Viver Evangélico, a primeira revisão das nossas Constituições SFP, de 1988.  É um livro muito significativo para mim.  No entanto, na revisão, para atender às expectativas canônicas, parecia ter perdido um pouco do "espírito" que eu havia sentido na versão anterior.  Apesar disso, achei que poderia conseguir manter dentro de mim o espírito da primeira versão.

Uma outra faceta significativa de minha vida depois do Concílio Vaticano II, foi a possibilidade de entrar no mundo do Ministério Pastoral, a partir de 1972, depois de ter servido como enfermeira nos hospitais da Congregação.  No contexto do Ministério Pastoral, fui instruida a ler e estudar os estudiosos da Escritura, assim como teólogas feministas.  Os livros que se destacam para mim nesse setor são os livros escritos por Jane D. Schaberg, Elizabeth Johnson, CSJ, e Margaret Farley, RSM.  Jane ajudou-me a perceber a humanidade de Jesus, bem como a sua divindade; Elizabeth, a notar como Deus pode estar presente em outras religiões, assim como no cristianismo, e Margaret, a compreender o amor humano assim como eu pensava que ele houvesse sido, nas Escrituras.  Há muitos outros livros bons e significativos que tive o privilégio de ler e sobre os quais refleti, mas para o propósito deste artigo, cito apenas estes, para ser breve.

Outro trunfo na minha vida como SFP desde o Concílio Vaticano II foi a minha capacidade de viver entre pessoas que são economicamente mais pobres do que abastadas.  Minha primeira experiência foi no final da década de 1960, quando tive a oportunidade de conviver brevemente entre afro-americanos em um grande projeto habitacional na grande cidade de Detroit, durante meus estudos de pós-graduação em enfermagem.  A partir daquela época tenho morado em casas "comuns", juntamente com religiosas de outras congregações, ou sozinha, toda vez que procurava um "emprego", frequentando algumas das paróquias mais pobres nos estados de Michigan e Ohio.

E, por último, na minha caminhada como SFP, uma bênção inesperada aconteceu uns 20 anos atrás, quando uma família de Bangladesh com seis filhos, o mais novo sendo ainda bebê,  mudou-se ao lado da casa onde agora estou vivendo, aqui em Detroit, Michigan.  Moravam no primeiro andar da casa ao lado quando fiz amizade com eles.  Em pouco tempo, eles se organizaram para comprar a casa em que estou vivendo, mas eles me pediram para ficar em vez de me mudar.

Minha proximidade com essa família me ajudou a entender uma nova cultura, bem como outra religião diferente da minha.  São muçulmanos.  A prática de sua religião me faz pensar em minha própria vida como católica romano antes do Vaticano II.  Seus valores e crenças parecem semelhantes aos que eu sempre valorizei.  A família é muito importante para eles, assim como a presença de um Deus amoroso a quem chamam de Alá.  Eu, quando penso em Deus, costumo pensar em Jesus.

Fico muito grata à Liderança Congregacional que temos tido  desde o Concílio Vaticano II.  Há muitas Irmãs que eu poderia mencionar, mas reconheço que não são essas poucas pessoas entre nós, e sim todos nós, que mudamos muito a partir do Vaticano II.  Parece-me que estou "saboreando" um pedacinho do céu, aqui na terra, mesmo antes de morrer.  É claro que, depois da morte, esperamos continuar a apreciar a terra, no sentido eterno.

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