Beth
Rindler, SFP
Cresci
em uma família católica na zona rural, em Ohio, onde todos eram católicos. Era a única religião que eu conhecia naquela
época. Portanto, o que eu acredito vem
do catolicismo romano. Minha família ia
à igreja todos os domingos, e nós, as criuanças, frequentávamos as aulas de
catecismo todos os sábados de manhã, por duas horas, durante o ano todo.
Minhas
básicas crenças religiosas não mudaram muito depois que entrei para a vida
religiosa em 1949. Mas com o evento do
Concílio Vaticano II, minha percepção de Jesus e de Deus mudou
radicalmente. Antes do Vaticano II, Deus
parecia ser mais como o Papai Noel do que com qualquer ser humano que eu
conhecia. Não poderia imaginá-lo como
outro "Ser" senão como alguém que era gentil, afável e bondoso.
Sabia que esse "Ser" era invisível para mim, assim como era o
"verdadeiro" Papai Noel.
Porém, eu acreditava na existência de ambos. Jesus, naquela época, era
para mim o Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
Os
livros espirituais disponíveis para mim durante o Noviciado, tendo sido
escritos antes do Vaticano II, me pareciam incompreensíveis, pelo menos, na sua
maioria. Não conseguia me relacionar com
eles. Então, quando o Cardeal Leo J.
Suenens escreveu A Freira no Mundo Moderno, no tempo do Concílio Vaticano II,
não só compreendi, como também gostei do que dizia. Esse livro "fazia sentido" para
mim. Queria virar as páginas tão rápido
quanto podia para ler o que ele iria dizer em seguida.
Também
me sentia feliz por ser capaz de ler os textos Escrituras por minha conta,
especialmente os Evangelhos. Não sei
quando nem como foi, mas lembro-me de ter conseguido obter uma Bíblia. Era a Bíblia de Jerusalém que, segundo havia
ouvido falar, era a melhor tradução. Um
outro livro que muito afetou a minha vida foi o Nosso Modo de Viver Evangélico,
a primeira revisão das nossas Constituições SFP, de 1988. É um livro muito significativo para mim. No entanto, na revisão, para atender às
expectativas canônicas, parecia ter perdido um pouco do "espírito"
que eu havia sentido na versão anterior.
Apesar disso, achei que poderia conseguir manter dentro de mim o
espírito da primeira versão.
Uma
outra faceta significativa de minha vida depois do Concílio Vaticano II, foi a
possibilidade de entrar no mundo do Ministério Pastoral, a partir de 1972,
depois de ter servido como enfermeira nos hospitais da Congregação. No contexto do Ministério Pastoral, fui
instruida a ler e estudar os estudiosos da Escritura, assim como teólogas
feministas. Os livros que se destacam
para mim nesse setor são os livros escritos por Jane D. Schaberg, Elizabeth
Johnson, CSJ, e Margaret Farley, RSM.
Jane ajudou-me a perceber a humanidade de Jesus, bem como a sua
divindade; Elizabeth, a notar como Deus pode estar presente em outras
religiões, assim como no cristianismo, e Margaret, a compreender o amor humano
assim como eu pensava que ele houvesse sido, nas Escrituras. Há muitos outros livros bons e significativos
que tive o privilégio de ler e sobre os quais refleti, mas para o propósito
deste artigo, cito apenas estes, para ser breve.
Outro
trunfo na minha vida como SFP desde o Concílio Vaticano II foi a minha
capacidade de viver entre pessoas que são economicamente mais pobres do que
abastadas. Minha primeira experiência
foi no final da década de 1960, quando tive a oportunidade de conviver
brevemente entre afro-americanos em um grande projeto habitacional na grande
cidade de Detroit, durante meus estudos de pós-graduação em enfermagem. A partir daquela época tenho morado em casas
"comuns", juntamente com religiosas de outras congregações, ou
sozinha, toda vez que procurava um "emprego", frequentando algumas
das paróquias mais pobres nos estados de Michigan e Ohio.
E,
por último, na minha caminhada como SFP, uma bênção inesperada aconteceu uns 20
anos atrás, quando uma família de Bangladesh com seis filhos, o mais novo sendo
ainda bebê, mudou-se ao lado da casa
onde agora estou vivendo, aqui em Detroit, Michigan. Moravam no primeiro andar da casa ao lado
quando fiz amizade com eles. Em pouco
tempo, eles se organizaram para comprar a casa em que estou vivendo, mas eles
me pediram para ficar em vez de me mudar.
Minha proximidade com essa família me ajudou a entender uma nova cultura, bem como outra religião diferente da minha. São muçulmanos. A prática de sua religião me faz pensar em minha própria vida como católica romano antes do Vaticano II. Seus valores e crenças parecem semelhantes aos que eu sempre valorizei. A família é muito importante para eles, assim como a presença de um Deus amoroso a quem chamam de Alá. Eu, quando penso em Deus, costumo pensar em Jesus.
Fico
muito grata à Liderança Congregacional que temos tido desde o Concílio Vaticano II. Há muitas Irmãs que eu poderia mencionar, mas
reconheço que não são essas poucas pessoas entre nós, e sim todos nós, que
mudamos muito a partir do Vaticano II.
Parece-me que estou "saboreando" um pedacinho do céu, aqui na
terra, mesmo antes de morrer. É claro
que, depois da morte, esperamos continuar a apreciar a terra, no sentido
eterno.
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